Jovem jaboatonense vende doces para realizar sonho de ser piloto da Aeronáutica
"Eu não achava que fosse possível, sou de uma família humilde e sempre estudei em escola pública", relembra o jovem, morador do bairro de Cajueiro Seco. Até que a intervenção de um professor dedicado fez Marcos enxergar o caminho para aumentar suas chances: os estudos. Desde então, ele já conquistou três aprovações em concursos, sendo a última justamente para a Escola Preparatória dos Cadetes do Ar (Epcar), uma das mais concorridas do país. "É por isso que vendo essas tortinhas doces. Os custos da viagem são pagos pelo candidato. Esta é a última etapa para eu poder chegar lá."
Na quinta-feira (7), Marcos esteve no plenário da Câmara Municipal de Jaboatão dos Guararapes a convite do vereador Melque para contar sua história. Pelos seus cálculos, R$ 5 mil seriam suficientes para cobrir os gastos com a viagem. Para conseguir o dinheiro, ele tem dividido a rotina entre os estudos e o trabalho vendendo lanches, R$ 2 cada. "Eu vendo na Feira de Prazeres. Entro nas lojas e fico vendendo. O pessoal já me conhece", contou.
"Ultimamente, eu tenho vendido muito, porque as pessoas veem o motivo. Às vezes nem fazem questão de pegar a tortinha; ajudam por ajudar mesmo." Mesmo assim, o tempo é curto. Devido à condição de cotista, Marcos precisou antecipar a viagem para dezembro, quando participará do Procedimento de Heteroidentificação Complementar (PHC) na Epcar, em Minas Gerais. Este processo é necessário para validar a autodeclaração racial dos candidatos.
Caso não consiga reunir o valor dentro do prazo, Marcos terá que adiar novamente seu objetivo de estudar na Epcar. Sim, essa não é a primeira oportunidade que tem de ingressar na instituição de ensino da Aeronáutica. "A primeira vez que fiz o concurso tinha 14 anos. Eu estudava das 5h da manhã até as 22h da noite, praticamente o dia todo. E passei. Mas meu pai não deixou eu ir, porque eu era muito novo para sair de casa. Não fiquei tão triste, afinal também tinha passado no IFPE", disse o rapaz, comprovando sua capacidade de acumular aprovações.
"O importante é resolver muitas questões, aprender a teoria e focar em simulados e provas antigas", contou, antes de dedicar ao professor Ricardo, da Escola Municipal Divina Providência, merecidos agradecimentos. "A minha vida mudou por causa dele. Ele sempre incentivava os alunos a estudar. Chegava uma hora mais cedo e saía uma hora mais tarde para nos dar reforço em Português e Matemática", recorda. "Foi com ele que conheci o mundo dos concursos."
Após ingressar no IFPE, Marcos precisava arcar com os custos do dia a dia – incluindo transporte e alimentação. Essa necessidade material o fez vencer a timidez para vender seus primeiros lanches enquanto pegava metrô e ônibus a caminho do instituto federal. "Quando comecei a vender, eu tinha 14 anos. Fiquei muito nervoso, sem saber bem como falar. Mas a pessoa acostuma, né? A necessidade, né? A pessoa tem de acostumar."
Apesar da rotina puxada, a primeira experiência diante de uma prova da Epcar, quatro anos atrás, foi satisfatória. "Na época, eu saí da prova com a certeza de que havia passado, bem diferente do que aconteceu este ano." E Marcos conta: "Era difícil focar nos estudos para o concurso e conciliar com o IFPE, que é bem puxado. Então precisei abandonar o IF para ir atrás do meu sonho. Ou seja, fui para a prova sabendo que só tinha duas alternativas: era passar ou passar."
Segundo as regras do concurso, para não ser eliminado, um candidato deve acertar pelo menos 50% das questões em cada disciplina. Marcos já havia garantido mais do que isso em Português e Inglês, mas ainda faltava Matemática – sua matéria favorita. "Das 16 questões, eu tinha certeza de sete em Matemática. Faltava uma. Decidi então concluir a redação e voltar depois. Pouco antes de encerrar o horário da prova, encontrei uma solução, mas marquei o gabarito errado. Acho que foi o nervosismo. Fiquei muito triste. Só me restava chutar as outras. Não tinha mais tempo. Então pedi ajuda a Deus. E, graças a Ele, acertei outras duas em Matemática. A nota não ficou tão alta, mas a Redação me fez subir na classificação. Tirei 9,1."
Caso você também deseje ajudar Marcos, deposite qualquer valor para a chave Pix: CPF - 109.822.354.37.