Jovem jaboatonense vende doces para realizar sonho de ser piloto da Aeronáutica

por Paulo Henrique Tavares publicado 12/11/2024 15h35, última modificação 12/11/2024 15h38
Ser piloto da Aeronáutica é um sonho que Marcos Juan Higino dos Santos, de 16 anos, nutre "desde pequeno", como costuma dizer. Tinha 12 anos, à época, e já era esperto o suficiente para entender que a realidade ao seu redor impunha barreiras difíceis para que esse desejo se tornasse realidade.
Jovem jaboatonense vende doces para realizar sonho de ser piloto da Aeronáutica

Marcos esteve no plenário da Câmara para contar sua história

"Eu não achava que fosse possível, sou de uma família humilde e sempre estudei em escola pública", relembra o jovem, morador do bairro de Cajueiro Seco. Até que a intervenção de um professor dedicado fez Marcos enxergar o caminho para aumentar suas chances: os estudos. Desde então, ele já conquistou três aprovações em concursos, sendo a última justamente para a Escola Preparatória dos Cadetes do Ar (Epcar), uma das mais concorridas do país. "É por isso que vendo essas tortinhas doces. Os custos da viagem são pagos pelo candidato. Esta é a última etapa para eu poder chegar lá."

Na quinta-feira (7), Marcos esteve no plenário da Câmara Municipal de Jaboatão dos Guararapes a convite do vereador Melque para contar sua história. Pelos seus cálculos, R$ 5 mil seriam suficientes para cobrir os gastos com a viagem. Para conseguir o dinheiro, ele tem dividido a rotina entre os estudos e o trabalho vendendo lanches, R$ 2 cada. "Eu vendo na Feira de Prazeres. Entro nas lojas e fico vendendo. O pessoal já me conhece", contou.

"Ultimamente, eu tenho vendido muito, porque as pessoas veem o motivo. Às vezes nem fazem questão de pegar a tortinha; ajudam por ajudar mesmo." Mesmo assim, o tempo é curto. Devido à condição de cotista, Marcos precisou antecipar a viagem para dezembro, quando participará do Procedimento de Heteroidentificação Complementar (PHC) na Epcar, em Minas Gerais. Este processo é necessário para validar a autodeclaração racial dos candidatos.

Caso não consiga reunir o valor dentro do prazo, Marcos terá que adiar novamente seu objetivo de estudar na Epcar. Sim, essa não é a primeira oportunidade que tem de ingressar na instituição de ensino da Aeronáutica. "A primeira vez que fiz o concurso tinha 14 anos. Eu estudava das 5h da manhã até as 22h da noite, praticamente o dia todo. E passei. Mas meu pai não deixou eu ir, porque eu era muito novo para sair de casa. Não fiquei tão triste, afinal também tinha passado no IFPE", disse o rapaz, comprovando sua capacidade de acumular aprovações.

"O importante é resolver muitas questões, aprender a teoria e focar em simulados e provas antigas", contou, antes de dedicar ao professor Ricardo, da Escola Municipal Divina Providência, merecidos agradecimentos. "A minha vida mudou por causa dele. Ele sempre incentivava os alunos a estudar. Chegava uma hora mais cedo e saía uma hora mais tarde para nos dar reforço em Português e Matemática", recorda. "Foi com ele que conheci o mundo dos concursos."

Após ingressar no IFPE, Marcos precisava arcar com os custos do dia a dia – incluindo transporte e alimentação. Essa necessidade material o fez vencer a timidez para vender seus primeiros lanches enquanto pegava metrô e ônibus a caminho do instituto federal. "Quando comecei a vender, eu tinha 14 anos. Fiquei muito nervoso, sem saber bem como falar. Mas a pessoa acostuma, né? A necessidade, né? A pessoa tem de acostumar."

Apesar da rotina puxada, a primeira experiência diante de uma prova da Epcar, quatro anos atrás, foi satisfatória. "Na época, eu saí da prova com a certeza de que havia passado, bem diferente do que aconteceu este ano." E Marcos conta: "Era difícil focar nos estudos para o concurso e conciliar com o IFPE, que é bem puxado. Então precisei abandonar o IF para ir atrás do meu sonho. Ou seja, fui para a prova sabendo que só tinha duas alternativas: era passar ou passar."

Segundo as regras do concurso, para não ser eliminado, um candidato deve acertar pelo menos 50% das questões em cada disciplina. Marcos já havia garantido mais do que isso em Português e Inglês, mas ainda faltava Matemática – sua matéria favorita. "Das 16 questões, eu tinha certeza de sete em Matemática. Faltava uma. Decidi então concluir a redação e voltar depois. Pouco antes de encerrar o horário da prova, encontrei uma solução, mas marquei o gabarito errado. Acho que foi o nervosismo. Fiquei muito triste. Só me restava chutar as outras. Não tinha mais tempo. Então pedi ajuda a Deus. E, graças a Ele, acertei outras duas em Matemática. A nota não ficou tão alta, mas a Redação me fez subir na classificação. Tirei 9,1."

Caso você também deseje ajudar Marcos, deposite qualquer valor para a chave Pix: CPF - 109.822.354.37.

07.11.2024 - Jovem jaboatonense vende doces para realizar sonho de ser piloto da Aeronáutica